quinta-feira, 9 de junho de 2016

RELATO 08 - BEIJO NA TESTA


Salve!! 

O relato que vou dar aqui hoje aconteceu em 1989 quando eu tinha 19 anos e minha mãe sofreu um AVC dentro de um ônibus. 


Minha mãe era do estilo que lia o livro preguiçosamente, ao contrário da minha madrinha que estudava mesmo, mas minha mãe gostava da Cultura e mantinha a foto do Pai Manoel em nossa casa. 


As últimas palavras dela para minha madrinha foram "Me dá o livro do Pai" e daí por diante, entrou em coma profundo. 


Eu estava em casa e recebi a notícia de que minha mãe estava na calçada passando mal... 


Eu me assustei , pois ela ao sair de casa estava bem e ainda me pediu para fazer um prato que eu nunca tinha feito em minha vida, mas ela me disse que estava cheia de desejos de comer peixe com leite de coco, e antes de sair com minha madrinha, me falou assim; 


"Anda, me dá um beijo e um abraço bem apertado". 


E não é que eu fiz esse prato esperando ela para almoçar? 
Então, voltando na calçada. 

O motorista do ônibus e o trocador a colocaram na calçada e eu desesperada, comecei a caçar alguém no condomínio onde morava para leva-la ao hospital, nesse caso, o Hospital Getúlio Vargas. 


Chegando ao hospital, ela foi imediatamente para o CTI. 

Foram dois dias e duas noites nesse local, mas eu ainda tinha esperança (é a última que morre, né?) de que ela fosse sobreviver e voltar a vida normal... 

Mas ela se transformou ... 

Então, foi aí que me deu uma coisa de querer defender minha mãe dos bichos do vácuo. 

Minha madrinha resolveu a parte do enterro pois eu não tinha condições e começou eu numa ladainha dentro do velório - naquela época ainda se velava o corpo a noite toda - e eu falava...

"Cade o pai? " 

"Meu Pai não deixe minha mãe com os bichos do vácuo" confesso que eu não via nada de bicho do vácuo, mas nem eu mesma sabia porque eu falava aquelas coisas, pois era como se eu sentisse que ela corria perigo e queria muito que ela tivesse uma outra oportunidade. 


O legal era que as pessoas achavam que eu queria a presença do meu pai, que na época estava viajando... mas não era ele. 

Era o NOSSO PAI, o RACIONAL SUPERIOR. 

Bem, amanheceu, e como o enterro estava marcado para as 16 h, ainda teria muitas horas pela frente. 

Mas a minha ladainha começou. 
"Cadê meu Pai?" 
"Eu quero meu Pai" 
"Não abandona minha mãe meu Pai"

E quando eu parei de choramingar, foi que na Capela, entrou aquele homem alto, cor de bronze de chapéu panamá e chegou perto do caixão da minha mãe e delicadamente foi soltando aquele véu que existe nos caixões e deu um beijo na testa da minha mãe e se foi e sumiu no ar, o que espantou algumas pessoas que ali estavam... 


Não falou com ninguém e muito menos olhou para ninguém. 

Eu fiquei maravilhada e confesso que aquilo me acalmou. 

Mas como eu era muito boba e não tinha entendido as coisas direito, escrevi uma carta para o Pai. 

Ele me respondeu era para eu ficar tranquila que o raciocínio de minha mãe estava sendo embalado no colo do Racional Superior. 


Bem gente, esse é o relato que eu tenho para dar a vocês e o Racional Superior é o melhor amigo que podemos ter em nossas vidas. 


Não tenho uma forma de finalizar esse relato, pois as lágrimas vem aos meus olhos, pois depois de 25 anos, é que conto para uma quantidade grande de pessoas. 


Poucas eram as pessoas que sabiam desse relato e hoje divido com todos vocês.


Colaboração: GISELE WERNECK






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